LIBERTADORES

Crônica de Inter 2 x 0 Bolívar: a autópsia

Os acertos de Eduardo Coudet e companhia provocaram um anticlímax na narrativa desta terça-feira (29), afinal um promissor cyberpunk que se desenhava na noite do nosso personagem acabou em festa e calmaria

“…Aquela imagem, que até hoje não se sabe se tratava-se de um ovni habitaria seus sonhos na vida adulta… Por estar associada à visão de seu pai trajado de Inter, ela seria recorrente em partidas do colorado, principalmente em dias de jogos decisivos… na madrugada deste 29 de agosto de 2023, em um bairro de Porto Alegre, não seria diferente… A atmosfera de seu sonho lembrava o movimento das águas do Guaíba em manhãs de vento ameno… Porém, por se tratar de dia de Libertadores, os ovnis viriam para trazer um incômodo no seu espírito e um embrulho no seu estômago…”

Fui para o Beira-Rio cedo, assim como muita gente. Os ingressos estavam há muito esgotados e o pessoal parecia querer sentir o ambiente do Gigante. Curti aquele clima de churrasco, projeções, debates sobre escalação, apostas, “Quem faria os gols?”, “Como?”. Mas meu sonho de sempre reverberava. Não só minha cabeça estava agitada, como sentia em meu estômago algo se mover. Parecia um verme, um animal, que chegava a fazer relevo em minha barriga, visível a quem me via de fora.

Olá, cá estou leitor (a) (e), para dar um auxílio, já que, em tese, o mais importante é o futebol. Sim, eu que comentei também jogos do Grêmio, me reporto aqui sobre o Internacional, mostrando que o lugar de onde falo me denota lisura. Mas trago uma novidade, uma terceira pessoa, com a qual analisaremos essa estranha anomalia surgida no torcedor colorado no dia do jogo.
– Como vai?
– Tudo certo
– E então, que te parece?
– Olha, me parecem coisas humanas, uma inquietação da alma, que o corpo sente. É noite da tal de Copa, afinal.
– Aé? Eu já sou mais apegado ao mundo físico, ao ponto de deixar ele influenciar minha imaginação. Será que não há um organismo de outra galáxia intrometido no corpo dele, desde a infância, e que se desenvolve e cresce independente a cada momento de estresse…?
– Que…?

Bom… voltemos ao relato…

O jogo começou. Eu sabia que hoje era um dia mais tranquilo, o adversário era mais fraco, a gente tinha ganho na altitude o primeiro jogo, mas convenhamos que o Inter não vinha dando provas de muita confiança nos últimos anos, dadas algumas eliminações bem feias e tudo mais. Assim, acho que as demonstrações de confiança dissimulavam ainda algum receio. Com a bola rolando, voltou o sentimento na barriga, ao mesmo tempo em que o foco foi todo para o campo. Meus olhos viraram telescópios.

Foto: Twitter SC Internacional/Divulgação

Mas é verdade que as preocupações com o passar dos minutos mostraram-se um tanto exageradas. O Inter foi dono das ações desde sempre. Fez o primeiro gol com o Enner (…logo aos 10 minutos, leitor…), uma baita conclusão de dentro da área após passe do Wanderson. O Enner, diga-se, joga muito. Velocidade, conclusão. E mais, tem mostrado que em momentos decisivos ele cresce. Minutos depois outro belo gol dele seria anulado.

– Aparentemente esqueceu do ET
– É, como um humano que elabora suas dores, superou e se acalmou

Voltemos…

Teve um episódio da torcida em confronto com a Brigada Militar fora do campo. Bomba de gás e tudo mais. A fumaça invadiu o gramado, os jogadores sentiram e o jogo foi paralisado. Tava tudo calmo, veio o intervalo. A sensação era de que tudo estava tudo devidamente encaminhado, já não sentia incômodos.

Começou o segundo tempo. Tava tudo certo. Assim como no primeiro tempo, o Enner fez mais um, mais um golaço, logo nos primeiros minutos. Aí sim, se foi qualquer preocupação. Teve tempo ainda para o Rochet pegar um pênalti e ser, depois, saudado pela torcida. “Olêêê, Olêêê, Olêêê, Rocheeet, Rocheeet”. E foi isso. Já estou estou em casa, pensando se já não é hora deixar o medo de ovnis de lado.

Pois bem, leitor (a) (e). Acaba que os acertos de Eduardo Coudet e companhia provocaram um anticlímax na narrativa desta terça-feira (29), afinal um promissor cyberpunk que se desenhava na noite do nosso personagem acabou em festa e calmaria.
– Que faremos com a tal anomalia?
– Ela desapareceu? Ou dormiu momentaneamente?
– É boa uma vida sem nenhum incômodo ou inquietação?
– Independente disso, me parece que o personagem é a antena do Inter.
– É, e ainda haverá sonhos com ETs.
– Enquanto isso, seguimos em busca de epifanias.
– O caminho até elas é de revirar o estômago.