FRONTEIRA OESTE

Basf e MPT firmam acordo de R$ 9 milhões em caso de trabalho análogo à escravidão, em Uruguaiana

Do total acordado, R$ 2 milhões serão divididos entre os trabalhadores. Também estão previstos investimentos sociais por parte da empresa

Foto: Comunicação Social/PF

A Basf, uma multinacional do setor de grãos, firmou um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) com o MPT (Ministério Público do Trabalho), em Uruguaiana, na Fronteira Oeste, onde se compromete a pagar danos morais individuais a 85 trabalhadores resgatados em condições degradantes. O resgate ocorreu também em Uruguaiana, no último dia 10 de março, em duas fazendas fornecedoras com as quais a empresa tinha contratos para multiplicação de sementes de arroz.

O TAC foi firmado pelo Procurador do MPT em Uruguaiana Hermano Martins Domingues. Os fatores levados em conta na definição da indenização, destinada a reparar a comunidade atingida, e das multas, a serem aplicadas em caso de repetição das irregularidades foram: a gravidade da lesão; a capacidade financeira do ofensor; o proveito obtido com a conduta ilícita; o grau de culpa ou dolo e a existência de reincidência; e o grau de reprovabilidade social da conduta.

Os valores

O acordo prevê, ao todo, o pagamento de R$ 9 milhões. Deste montante, R$ 2 milhões serão divididos entre os trabalhadores resgatados. O prazo para o pagamento é de 60 dias úteis. Segundo o MPT, a empresa colaborou de maneira proativa para contribuir com a resolução do caso.

Este valor se soma aos já garantidos emergencialmente em março pelo MPT junto às estâncias Santa Adelaide e São Joaquim, responsáveis pela colheita e contratação dos trabalhadores. Elas pagaram os valores rescisórios devidos a cada trabalhador, no total de R$ 365.516,55.

Além disso, ainda segundo o MPT, a estância Santa Adelaide se comprometeu a custear os tratamentos de um adolescente acidentado até sua plena recuperação.

Além dos pagamentos, o MPT encaminhou os empregados à assistência social e ao Cerest (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador) para realização de exames médicos, inserção em programas de qualificação profissional e de assistência social para evitar que sejam novamente submetidos a condições de trabalho inadequadas.

Houve a formalização de outros dois TACs com os agenciadores (“gatos”) nos valores de R$ 20 mil cada e com 15 obrigações de fazer e não fazer para impedir a atuação desses no aliciamento de outros trabalhadores. Esses acordos completam a atuação do MPT para a apuração da responsabilidade de todos os elos da cadeia produtiva envolvidos no resgate ocorrido em março.

O termo de ajuste de conduta foi homologado judicialmente pela juíza do Trabalho Laura Antunes de Souza, da 1ª Vara do Trabalho de Uruguaiana. Além disso, dois TACs definitivos com as fazendas estão em negociação, com a previsão de mais valores individuais e coletivos a serem pagos aos trabalhadores e à sociedade.

Investimento social

O restante do dinheiro, R$ 6,5 milhões, será investido pela Basf em projetos sociais de erradicação do trabalho em condições degradantes na Fronteira Oeste do Estado. Também, irá adquirir uma caminhonete no valor de R$ 500 mil, no prazo de 180 dias, para ser utilizada em ações de fiscalizações de trabalho escravo na região pela Gerência regional do Trabalho (órgão do Ministério do Trabalho e Emprego, que não tem relação com o MPT). O investimento social totalizará R$ 7 milhões.

Além disso, a companhia assume a obrigação de não permitir que empresas contratadas por ela empreguem menores de 18 anos em trabalho noturno, perigoso, insalubre ou adolescentes menores de 16 anos, exceto na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos. A empresa também deverá garantir que as condições adequadas de trabalho de profissionais terceirizados ou quarteirizados sejam cumpridas.

O TAC estipula obrigações de “compliance” com empresas terceirizadas e outros itens de saúde e segurança do trabalho, em especial em relação a defensivos agrícolas. A multa por descumprimento das cláusulas é definida por item descumprido, mais R$ 10 mil por trabalhador prejudicado.

O caso

Operação conjunta entre MPT, MTE e PF em Uruguaiana resgatou 85 trabalhadores (11 deles adolescentes com idades entre 14 e 17 anos) em condições degradantes em duas fazendas no interior do município. Segundo o MPT, eles cumpriam jornadas extenuantes fazendo o corte manual do arroz vermelho e a aplicação manual de defensivos agrícolas, sem EPIs.

O resgate foi realizado nas estâncias Santa Adelaide, onde foram encontrados 54 trabalhadores, e São Joaquim, de onde foram resgatados 31 trabalhadores. As duas propriedades multiplicadoras de sementes de arroz são fornecedores terceirizados da Basf. Os resgatados, todos do sexo masculino, eram da própria região, oriundos de Itaqui, São Borja, Alegrete e Uruguaiana.