Incêndio que traumatizou Porto Alegre completa 46 anos nesta quarta-feira

O fogo teria começado no terceiro andar do edifício. Ao menos 41 pessoas morreram.

Reprodução de foto do inquérito policial de 1976. Foto: Roberto Bacelar/IGP

Quarenta e seis anos: essa é a distância temporal que nos separa daquela terça-feira 27 de abril de 1976, quando um incêndio irrompeu em uma das maiores lojas de departamentos de Porto Alegre à época. O incêndio nas Lojas Renner, localizada na esquina da rua Otávio Rocha com rua Doutor Flores, foi um dos eventos traumáticos que forjam a Capital.

O fogo foi identificado, por volta das 14h, no terceiro andar do edifício, o primeiro acima do térreo e da sobreloja. Na época, a Lojas Renner não era nada parecida com a marca atual. Além da loja de departamentos – com artigos de vestuários – eram vendidas utilidades domésticas, brinquedos, eletrodomésticos, instrumentos musicais, equipamentos para cine-foto. O prédio contava com um restaurante no 7º andar (9º pavimento, considerando a loja e sobreloja).

No momento do início sinistro, encontravam-se no interior da loja cerca de 350 pessoas. O prédio tinha nove pavimentos e área de cerca de 8000 m², edificados num terreno de 1000 m², conforme o Corpo de Bombeiros. Por fora, formavam um bloco único, mas, na verdade, era um conjunto de quatro prédios, que já haviam passado por ampliações e reformas.

Toda a cidade se mobilizou para auxiliar as vítimas. Juntamente do corpo técnico do Hospital de Pronto Socorro, centenas de pessoas procuraram o banco de sangue para fazer doações. Após duas horas do início do fogo, ocorreu o desabamento parcial do prédio. Três dos quatro blocos que formavam o prédio desabaram.

Helicópteros sobrevoaram o local, mas não conseguiram salvamentos, em razão da falta de acesso às vítimas, pela grande quantidade de gases quentes, chamas e fumaça. Duas auto-escadas mecânicas do Corpo de Bombeiros realizaram o salvamento de 45 pessoas nos dois últimos pavimentos, onde localizava-se o restaurante.

Apesar dos salvamentos, outras 41 pessoas pereceram naquela terça-feira. Outras 65, incluindo três bombeiros, ficaram feridas. O fogo foi controlado ainda na tarde, mas só foi totalmente debelado dois dias depois.

Causas do incêndio

No mesmo dia 29 de abril de 1976, peritos criminais ingressaram no que sobrou dos prédios. Dos escombros, eles observaram o que sobrou das estruturas de alvenaria, divisórias internas de madeira, instalações hidráulicas, escadas e elevadores. As instalações elétricas receberam maior atenção.

Tomadas foram desmontadas em busca de indícios de curto circuito. A única irregularidade da rede elétrica foi encontrada em um aparelho de ar condicionado do 4o pavimento. Uma pequena gota de ferro fundido, com aspecto semelhante a uma pérola, indicava um curto circuito. Mas o laudo final concluiu que o curto circuito foi consequência da ação das chamas, ou do calor da grade metálica e não a causa do incêndio.

Os peritos também avaliaram as condições arquitetônicas do local. A escada social possuía um metro de largura – metade do que preconizavam as normas técnicas de segurança da época– insuficiente para a evacuação. As janelas, fechadas hermeticamente, armazenaram os gases tóxicos e impediram o acesso dos bombeiros aos andares mais altos. As cortinas metálicas “corta-fogo” eram do tipo de enrolar, e sequer foram usadas.

O laudo final com as causas do incêndio foi assinado em 14 de julho de 1976 e entregue à 1a Delegacia de Polícia. A conclusão sobre a causa do incêndio foi “ação de corpo ígneo (cigarro ou palito de fósforo) caído ou lançado, acidental ou propositalmente sobre material combustível”.

O fogo teria iniciado nos fundos do 1o andar, próximo à escada de emergência – onde estavam embalagens plásticas, palha e o depósito de tintas e solventes que, pelo impulso de uma fagulha, provocaram grandes explosões. O laudo relata que quinze extintores de incêndio usados foram encontrados no lance de escadas imediatamente superior ao do 1o andar. Isso os levou à conclusão de que a escada acabou obstruída logo no início do fogo, e acabou servindo como uma chaminé, que propagava a fumaça verticalmente, para andares mais elevados.

Os documentos fornecidos pela empresa que fazia a manutenção nos extintores afirmam que a quantidade destes equipamentos era até maior que a necessária – mas a posição em que estavam impediu que fossem usados. Por ironia, no dia do incêndio, estava sendo feita uma vistoria nos extintores.