Caso Kiss: ex-segurança da boate encerra o quinto dia depoimentos

O julgamento de quatro réus pelo crime de homicídio no incêndio da Boate Kiss em Santa Maria, em janeiro de 2013, entrou neste domingo (5) no quinto dia.

O julgamento de quatro réus pelo crime de homicídio no incêndio da Boate Kiss em Santa Maria, em janeiro de 2013, entrou neste domingo (5) no quinto dia.

Neste domingo foram realizados três depoimentos. O primeiro foi de Tiago Flores Mutti, engenheiro civil que atuou na reforma da Boate Kiss, em 2009.

Por responder a processos criminais envolvendo a casa noturna, ele passou de testemunha (arrolada pela defesa de Mauro Londero Hoffmann) para a condição de informante.

Isso significa que ele não prestou compromisso de falar a verdade, como uma testemunha (que pode responder pelo crime de falso testemunho se não o fizer), e apenas prestou informações a respeito do que sabe sobre os fatos. Ele morava em Cruz Alta e não estava na danceteria na noite do incêndio.

Em seu depoimento, que durou 5 horas, Mutti informou que auxiliou nas obras da reforma na Boate Kiss, em 2009, quando a irmã dele era a proprietária do estabelecimento em sociedade com outros dois empresários.

Ele disse que a família deixou a administração da Kiss em dezembro de 2009 e que, até aquele momento, não havia espuma instalada no local.

“Voltei a entrar na boate 3 anos depois, com a minha esposa, exatamente 30 dias antes do incêndio, na festa ‘Friends’, onde seria comemorado o aniversário de um amigo meu. A boate estava muito bonita”, disse Mutti.

“Notei que estava bem diferente. Achei mais ampla. A pista 2 foi fechada e virou um pub. O palco passou para o fundo”, completou.

Mutti responde a dois processos criminais (falsidade ideológica e falso testemunho) onde o Ministério Público o acusa de ser o verdadeiro proprietário da Kiss e também por supostamente participado de coleta de assinaturas favoráveis ao funcionamento da boate em documento entregue ao Município de Santa Maria para regularização da casa noturna.

No que se refere à acusação de falso testemunho, Mutti, o pai e a irmã foram absolvidos (processo ainda não transitou em julgado).

O jovem que foi salvo pelo irmão no incêndio foi o segundo a dar depoimento. Delvani Brondani Rosso, 29 anos, disse que estava no interior da Boate Kiss, durante o incêndio.

Com um relato detalhado e bastante emocionado, o jovem mostrou aos jurados as marcas que ainda carrega no corpo após aquela noite, especialmente nos braços e nas costas.

“Enquanto fui caindo, fui me despedindo da minha família, dos meus amigos, pedindo desculpas por alguma coisa que eu tivesse feito. Senti meu corpo queimar, fui caindo e desmaiei”, disse. Rosso perdeu três amigo no incêndio.

Durante o depoimento, ele disse que não lembra de ter visto funcionários da boate orientando a saída do público. Não observou extintores nem brigadistas de incêndio.

A ex-segurança da boate encerrou os depoimentos deste domingo. Doralina Peres era segurança terceirizada na Boate Kiss há quase 3 anos. Ela informou que, na noite do incêndio, a Kiss estava cheia, mas não lotada.

Durante o depoimento, Doralina ressaltou que não lembra de tudo o que ocorreu naquela noite, mas que foi retirada por um colega e levada a área do estacionamento de um supermercado localizado do outro lado da rua.

Doralina ficou quase 1 mês internada no hospital, teve problema pulmonar e fez enxerto na perna. Cinco colegas dela faleceram em decorrência dos ferimentos.

Questionada sobre se existia ordem de barrar as pessoas para não saírem da casa sem pagar, Doralina explicou que “Kiko ficava com a identidade delas até que elas voltassem ou pedissem ajuda para os familiares”.

Sobre treinamento de segurança, Doralina disse que recebeu dos próprios colegas mais antigos. Ela não sabia manusear extintores de incêndio e não se recorda de nenhuma reunião com a chefia que tenha tratado desse assunto. Disse também que havia luzes de emergência no estabelecimento.

O júri será retomado na manhã desta segunda-feira (6).