Caso Kiss: após depoimento de Marcelo de Jesus, começam debates entre promotoria e defesas

A primeira parte será destinada à acusação, com a fala do Ministério Público. Depois, será dada a palavra para as defesas.

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O júri sobre o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, em 2013, entrou em seu terço final após nove dias. Após ouvir os quatro réus, a acusação e as defesas irão debater os pontos do processo, conforme prevê o rito do processo. Ao todo, serão 9 horas, entre debates, réplica e tréplica entre as partes.

A primeira parte será destinada à acusação, com a fala do Ministério Público até as 18h45 da tarde desta quinta-feira. Será feito um intervalo para a janta dos jurados e, posteriormente, a defesa fará suas ponderações. Ainda não está claro se réplicas e tréplicas ocorrerão hoje.

Antes do início dos debates, foi realizada a oitiva do último réu: Marcelo de Jesus dos Santos, o vocalista da banda Gurizada Fandangueira. Ele falou por cerca de duas horas e afirmou que “todo mundo” sabia que o grupo musical fazia uso de artefatos pirotécnicos. “O dia 27 nunca saiu de mim. Eu acordo e durmo pensando no dia 27. Não tô bem, eu nunca tive bem”, afirmou o músico.

Segundo ele, a Kiss estava com bastante público, sem saber dizer se a casa estava lotada. “Todas as vezes em que tocamos na Kiss estava bastante cheio”, destacou. Marcelo relembrou aquela noite: a banda tocou um bloco musical e a música “Amor de Chocolate”, do cantor Naldo, não fazia parte do repertório. Foi feita uma introdução, Luciano [Bonilha Leão] alcançou o artefato para Marcelo que, de frente para o público, começou a balançar a mão para o alto, de um lado e do outro.

Foi quando o artefato foi aceso e, logo em seguida, alguém avisou que estava pegando fogo. Um rapaz subiu no palco e entregou um extintor de incêndio. “Larguei o microfone, peguei o extintor na mão. Eu gritei ‘fogo, fogo, sai’. Quando me deram o extintor, eu achei que ia apagar. Só tive uma chance, mas o extintor não funcionou”. Ele disse que quando pegou o equipamento, caiu o pino. Mais duas pessoas tentaram utilizá-lo, mas sem sucesso.

Marcelo lembrou que, nesse momento, entrou em desespero. Alguém gritou: “‘Vai vir mais extintor’. E não veio”. Luciano jogou água, o que aumentou o fogo. “As pessoas correndo, querendo sair. Eu olhava e não podia fazer nada”. Não viu se os seguranças da casa noturna orientaram o público.

Não havia mais quase ninguém na boate. Marcelo pensou que ia morrer. “Não me lembro mais de nada. Quem me tirou de lá foi o meu irmão. Se ele não tivesse me visto voltando, eu ia voltar para o fogo”, afirmou, chorando. “Quando acordei lá fora, era uma cena de guerra. Pessoas chorando, eu não conseguia assimilar onde eu estava. Quando olhei, eu estava no meio das pessoas mortas”, lembrou.

Sequelas não foram tratadas, diz réu

Marcelo afirmou ainda que ficou intoxicado pela fumaça do incêndio. Relatou que foi preso e não foi recebeu nenhum tratamento médico contínuo. Afirmou que evitava buscar atendimento para que sua identidade não fosse descoberta. “A médica queria me encaminhar para o mesmo local onde outras vítimas da Kiss se tratavam e eu não quis ir, de vergonha”.