Estudo mostra que pessoas negras estão em desvantagem em indicadores sociais no Rio Grande do Sul

Um estudo divulgado pelo DEE (Departamento de Economia e Estatística) do Governo do Estado do Rio Grande do Sul mostra que pessoas negras estão em desvantagem em vários indicadores sociais, em comparação com a população branca. Os afrodescendentes representam cerca de 21% da população gaúcha, o que equivale a 2,3 milhões de habitantes.

A pesquisa indica que há uma forte desproporção entre questões educacionais, de saúde de trabalho. As taxas de analfabetismo são maiores entre negros do que entre brancos, há diferenças significativas nas taxas de Ensino Superior completo, e maior distorção idade-série entre negros, que se refere aos alunos que têm idade acima da esperada para o ano em que estão matriculados.

O relatório técnico “Panorama das desigualdades de raça/cor no Rio Grande do Sul” aponta também que a população negra gaúcha corre maior risco de óbito por Covid-19 entre pessoas com mais de 60 anos. E que há maior taxa de desemprego entre negros em relação aos brancos.

O estudo foi produzido pelos pesquisadores André Augustin, Daiane Menezes, Lívio de Oliveira, Marilyn Agranonik, Ricardo de Oliveira Júnior, Rodrigo Campelo, Ana Clara Grassi, Henrique Silva e Gabriele dos Anjos. Ele pode ser lido, em sua íntegra aqui. A apresentação do conteúdo está disponível através deste link.

Educação

Entre pessoas com 15 e 17 anos, por exemplo, a taxa é de 5,2% ante 2% dos brancos, chegando a 16% entre a população negra com 60 anos ou mais contra 5,2% na mesma faixa etária entre os brancos. Quando o tema é escolaridade, a população negra também está em desvantagem. No Estado, 16,4% dos brancos tinham Ensino Superior completo em 2019 contra 6,3% dos negros.

Já entre a população com Ensino Fundamental incompleto, o percentual entre os negros era de 38,8% contra 31,5% dos brancos. Entre os matriculados na Educação Básica, os brancos representavam 84% do total dos estudantes, contra 10% de pardos e 5% de pretos. Na população com até 17 anos do Rio Grande do Sul, brancos eram, em 2019, 77% do total de habitantes e os negros (pardos e pretos) eram 23%.

Outro indicador presente no relatório é a distorção idade-série dos estudantes da Educação Básica no RS. Conforme os dados levantados, entre o terceiro e o nono ano do Ensino Fundamental o percentual de alunos com idade acima da esperada para o ano em que estão matriculados é maior entre a população indígena no Rio Grande do Sul, seguida da população preta e parda.

Saúde

Em 2019, 19,2% da população branca do Estado avaliava seu estado de saúde como “muito bom”, percentual que cai para 16,7% entre os pardos e 12,2% entre os pretos. O acesso a serviços privados de saúde chega a 30,4% entre os brancos ante 17,1% entre os pardos e 16,3% entre os pretos.

Apesar de estarem cadastradas em menor percentual na unidade de saúde da família, os domicílios da população branca recebem com mais frequência as visitas de agentes comunitários ou de algum membro da equipe de saúde da família.

Quanto à taxa de letalidade hospitalar em função da pandemia da Covid-19, a população preta inscrita no Cadastro Único registrou percentuais maiores do que a branca e a parda para faixas etárias mais altas. Por faixa de renda, o risco de óbito entre adultos internados com Covid-19 é 12% maior para pessoas pretas em relação a pessoas brancas na faixa de renda acima de meio salário mínimo.

Trabalho

Na taxa de desemprego por raça/cor no Rio Grande do Sul, o percentual é mais expressivo entre os pretos e pardos em relação aos brancos. No primeiro trimestre de 2020, o último antes dos maiores efeitos da pandemia do Covid-19, a taxa era de 13,5% entre a população preta, 12,8% entre os pardos e 7,2% entre os brancos.

No mesmo período de 2020, o rendimento médio dos negros respondia por pouco mais de 55% do rendimento dos brancos. Enquanto a renda média dos pretos era de R$ 1.996 e dos pardos, R$ 1.848 no primeiro trimestre do ano passado, entre os brancos o rendimento chegava a R$ 2.990, conforme dados da Pnad Contínua do IBGE.