Executivo confirma que Pfizer ofereceu vacinas em agosto, mas teve contatos ignorados

Três propostas foram realizadas e tinham 15 dias de validade. Não houve manifestação “nem a favor nem contra”, segundo o ex-presidente da farmacêutica

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O ex-presidente da Pfizer Brasil e atual CEO para América Latina da farmacêutica, Carlos Murillo, confirmou nesta quinta-feira (13) à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19 que a empresa apresentou três propostas de venda de vacinas anti-Covid em agosto de 2020 e que o governo brasileiro não deu resposta à empresa.

Segundo Murillo, a empresa formalizou todas as propostas para o Ministério da Saúde e, apesar das conversas serem focadas com essa pasta, houve também debates com membros do Ministério da Economia – incluindo Paulo Guedes – e a Secretaria de Comunicação da Presidência, com o ex-secretário Fabio Wajngarten.

As reuniões “exploratórias” para a venda da então vacina começaram em maio de 2020, segundo Murillo, “de maneira simultânea” com todos os países do mundo. Em 6 de agosto, o Ministério da Saúde “manifestou possível interesse” na compra das doses e a empresa então preparou as propostas para o governo federal.

O executivo explicou que a primeira proposta foi enviada em 14 de agosto e que se tratava de duas opções: uma com a disponibilização de 30 milhões de doses e outra com 70 milhões. Ambas tinham previsão de entrega em 2020 e 2021.

Detalhando a proposta, Murillo explicou que as duas previam a entrega de 500 mil doses até o fim do ano passado, 6,5 milhões no primeiro semestre de 2021 e as demais, conforme contrato até o fim deste ano.

Já no dia 18 de agosto, uma nova proposta foi enviada – também com as duas opções quantitativas – com a alteração nos números. Seriam entregues 1,5 milhão de doses ainda em 2020, em ambos os casos, e de 6,5 milhões no primeiro semestre de 2021 e as demais, conforme contrato, até o fim do ano.

Uma terceira proposta foi enviada em 26 de agosto, com uma nova redistribuição nos prazos das doses, sendo: 1,5 milhão de doses no ano passado em ambas as opções, 10 milhões no primeiro semestre deste ano no caso das 30 milhões ou de 17 milhões no caso da segunda. As demais, até o fim de 2021.

As propostas tinham 15 dias de validade e não houve manifestação “nem a favor nem contra”, segundo o ex-presidente da farmacêutica no país. Pressionado pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB/AL), ele ressaltou que “não houve resposta” do governo.

Ainda conforme os dados apresentados, a Pfizer Brasil apresentou novamente ofertas, dessa vez, apenas de 70 milhões de doses. Em 11 e 24 de novembro, os documentos previam as entregas apenas para 2021 e nas mesmas quantidades: 2 milhões no primeiro trimestre, 6,5 milhões de doses no segundo trimestre e o restando no segundo semestre.

Já em 2021, em 15 de fevereiro, foram ofertados 100 milhões de doses e uma nova proposta apresentada em 8 de março, da mesma quantidade, e que foi a aceita “finalmente”, segundo Murillo, pelo Ministério da Saúde.

Sobre a polêmica carta revelada por Wajngarten, Murillo confirmou que foi enviada para o presidente da República, Jair Bolsonaro, o vice, Hamilton Mourão, e os ministros Walter Braga Netto, Eduardo Pazuello e Paulo Guedes – além do embaixador do Brasil nos EUA, Nestor Forster – em 12 de setembro.

O executivo também confirmou que Wajngarten telefonou para ele, em 9 de novembro, após ver que a carta não havia sido respondida. No mesmo dia, Murillo confirmou que falou por telefone com Bolsonaro e Pazuello, a pedido do ex-secretário da Comunicação.

Questionado sobre o que poderia ter causado a demora nas negociações, o representante afirmou que “os temas complexos tiveram, primeiramente, a questão logística por conta do armazenamento da vacina”.

“No final de outubro, nós apresentamos a caixa de embalagem que a Pfizer e outras companhias tinha desenvolvido e que permitia o armazenamento nessa caixa, com troca de gelo seco, e que durava 15 dias nela e no refrigerador normal 5 dias”, acrescentou.

Depois, ressaltou Murillo, o Ministério da Saúde “entendia que precisava do registro da Anvisa e de uma liberação legislativa específica para o que estávamos negociando” e que isso ocorreu entre novembro e janeiro.

“Sinceramente, o dia que estava confiante no fechamento foi em 18 de março, quando fechamos o contrato. Não poderíamos estar confiantes até a assinatura do contrato”, disse após questionamento de Calheiros.

O relator ainda questionou Murillo sobre as declarações polêmicas de Bolsonaro, sobre “virar jacaré”, e o executivo não quis opinar diretamente sobre a fala. “Nós somos uma companhia da ciência e essas declarações, como foram feitas muitas outras… nós continuamos a lutar pela vacina para todos os brasileiros”.

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