Fabrício Silveira lança Mecanosfera / Monoambiente

Novela de ficção teórica aborda o universo acadêmico, realismo capitalista e saúde mental em um contexto recente do Brasil.

Um professor universitário de quarenta e cinco anos perde o emprego e se inscreve no processo de seleção para uma bolsa de estudos. A narração desses acontecimentos, conforme progride, acaba por revelar certos bastidores do mundo acadêmico no Brasil. Uma história sobre burocracia e reconfiguração de postos de trabalho, realismo capitalista e realismo especulativo. Uma trama envolvendo livros e mapas sonoros, mídias mortas e currículos fraudados.

Esta sinopse fornece pistas sobre a atmosfera criada pelo professor e pesquisador na área da Comunicação Fabrício Silveira em Mecanosfera / Monoambiente (Editora Zouk, ISBN 9786557780015 – 14×21 – 120 páginas, R$40), uma novela de ficção teórica. No dia 05 de setembro (sábado), às 19 horas, o autor participa de uma live de lançamento no instagram da Editora Zouk @editorazouk.

Concebido como parte das atividades da disciplina “Epistemologia fabulatória experimentação metodológica e criação escrita na pesquisa em Comunicação”, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRGS, o livro aborda questões vigentes. Um impulso para escrever a trama, segundo Fabrício, foi “a percepção de que vinha se dando uma ‘fratura cognitiva’ com o descrédito progressivo à imprensa, à universidade, às instituições de pesquisa. A avalanche de fake news com a qual passamos a conviver, me instigou para tratar do tema, para considerá-lo e reagir a ele, de algum modo. O interessante é que passei a ver essa onda de ‘verdades alternativas’ como demanda generalizada por ficções, por novas ficções, como se a sociedade estivesse pedindo ficções e que, sendo assim, um trabalho universitário poderia se ver autorizado a incorporar, em si mesmo, lógicas e procedimentos próprios da literatura e dos mundos ficcionais, tentando assim dar outro sentido, canalizar de outro modo essa demanda.”

E no período entre a escrita e a publicação, o texto ganhou uma maior atualidade: o clima claustrofóbico, que existe na narrativa, em razão do novo coronavírus, só aumentou; dois outros ministros da Educação se envolveram com episódios de franco desprezo às universidades e com currículos fraudados; um livro que o narrador analisa num dos capítulos, de autoria do teórico inglês Mark Fisher (Realismo Capitalista – É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo?), está para ser lançado no Brasil, justamente agora em setembro; a crise das universidades e a crise do mundo do trabalho, as demissões só se agravaram também; John Frusciante, que é um artista sobre o qual o personagem principal tem uma certa obsessão, voltou para os Red Hot Chilli Peppers. Muito do que está colocado no livro, ajudando a compor aquele monoambiente, não só se manteve, mas foi acentuado, ganhou ainda mais proeminência, se fez ainda mais saliente.

O escritor Paulo Scott observa a dinâmica da escrita: “Uma boa narrativa nunca é só uma narrativa, é um desafio que fisga o leitor, que o alimenta e o transforma. Fabrício Silveira consegue a proeza de arquitetar, de maneira simples e instigante, um estado de alma, um olhar corriqueiro, trágico, a mostra do pesadelo de um tempo, um labirinto que se renova no eixo-gangorra de afeto e do conhecimento. Um protagonista digno da melhor tradição. Um livro que merece ser lido e relido.”

Fabrício Silveira

Fabrício Silveira é professor universitário e escritor. É formado em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Mestre em Comunicação e Informação (UFRGS), Doutor em Ciências da Comunicação (Unisinos) e Pós-Doutor pela School of Arts and Media (Salford university, Reino Unido). É autor dos livros Grafite Expandido (Modelo de Nuvem, 2012), Rupturas Instáveis. Entrar e sair da música pop (Libretos, 2013), indicado aos Prêmios Açorianos de Literatura 2013, na categoria Ensaio de Literatura e Humanidades, e AGES – Livro do Ano 2014, na categoria de Não-Ficção, e Guerra Sensorial. Música pop e cultura underground em Manchester (Belas Letras /Modelo de Nuvem, 2016). Publicou também Gigante Figura (Riacho, 2018), sua estreia na escria de ficção, indicado ao PrêmioAGES Livro do Ano 2019, na categoria Especial. É egresso da Oficina de Criação Literária ministrada pelo escritor Luiz Antonio de Assis Brasil na PUCRS. Atualmente, realiza estágio pós-doutoral – bolsa PNPD Capes – junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nasceu em Santa Maria. Mora em Porto Alegre.