Trânsito aumentou 20% nas últimas duas semanas em Porto Alegre, mostra Fiocruz

Pesquisadores do Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) constataram que a população começou a circular mais pelas grandes cidades há duas semanas, antes mesmo do relaxamento das medidas de isolamento social. Neste período, registrou-se um aumento médio de 20% nos engarrafamentos de trânsito em Porto Alegre e mais quatro regiões metropolitanas.

Essa constatação foi feita pela equipe de pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict) da Fiocruz. Foram usados dados da intensidade do trânsito de veículos, por meio de técnicas de big data a partir do aplicativo Waze.

A equipe da Fiocruz estudou os dados diários – de 9 de março a 1º de junho) – de mobilidade de veículos em cinco regiões metropolitanas, todas com forte incidência de Covid-19. São Paulo, Rio de Janeiro, Recife/PE, Manaus/AM e Porto Alegre/RS tiveram a adesão ao isolamento social mensurada através do volume de tráfego de veículos.

Usando o GPS de celulares para medir a velocidade do trânsito e a ocorrência de engarrafamentos, o estudo constatou que, desde meados de março (quando começou o isolamento social), houve forte redução do trânsito em todas as cinco metrópoles. Porém, nas últimas duas semanas, registrou-se um aumento médio de 20% nos engarrafamentos de trânsito nessas cinco regiões metropolitanas, notadamente em Manaus e Porto Alegre.

Os engarrafamentos aconteceram principalmente de segunda a sexta-feira, mas em Manaus e Porto Alegre foi constatado que o trânsito aumentou também aos fins de semana. O aumento no trânsito foi percebido antes mesmo do relaxamento social ser efetivamente adotado por alguns prefeitos e governadores.

Queda no isolamento social
Christovam Barcellos, geógrafo, especialista em Saúde Pública e vice-diretor do Icict, diz que essa constatação complementa estudos de outras instituições e informações de jornais que vêm indicando uma queda na adesão ao isolamento social.

“Por que as pessoas estão andando mais de carro? É possível que tenha havido um aumento nas atividades de trabalho, ou na urgência em resolver outras questões cotidianas, após tantas semanas de isolamento. O ponto é que, em cidades como Porto Alegre e Manaus, observa-se também a ocorrência de engarrafamentos nos fins de semana, o que indica que a população está saindo de casa a lazer”, alerta Barcellos.

O pesquisador chama atenção para a importância de se estudar o comportamento social na epidemia de Covid-19: “Nosso sentimento é de que as práticas de investigação epidemiológica vêm se perdendo. Isso deveria ser realizado principalmente pelas prefeituras, com apoio de órgãos centrais, como os Centros de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs). É preciso ter agentes de saúde, enfermeiros e médicos de família que conversem mais profundamente com os pacientes e seus contatos, para saber como eles podem ter se infectado, por onde andaram e qual a possibilidade de terem infectado outras pessoas. Além disso, é possível usar técnicas mais modernas, como big data, para monitorar a mobilidade da população e identificar situações de risco. Isso foi feito de maneira muito forte na Coreia do Sul e trouxe ótimos resultados na contenção do vírus. Aqui, ainda não sabemos o porquê de o volume de engarrafamentos ter aumentado em Recife, nas sextas-feiras das últimas duas semanas, por exemplo.”

Com o aumento no fluxo no trânsito, também o vírus pode estar circulando com mais intensidade dentro das regiões metropolitanas, e expandindo-se das capitais para as periferias. “Essas capitais podem exportar o vírus e importar doentes graves nas próximas semanas, devido ao relaxamento no isolamento social, como mostram os mapas de fluxo de internação”, explica Diego Xavier, epidemiologista do Icict e participante do projeto MonitoraCovid-19.