Protesto lembra 2 anos da morte de menina baleada dentro de escola

A organização não governamental (ONG) Rio de Paz e parentes da estudante Maria Eduarda Alves Ferreira fizeram hoje (20) protesto para lembrar dois anos da morte da adolescente e cobrar indenização do estado do Rio de Janeiro. Aos 13 anos, a estudante foi alvejada quando dois policiais militares trocavam tiros com criminosos perto da Escola Municipal Jornalista e Escritor Manuel Piza, em Acari, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Ela fazia aula de educação física na quadra do colégio quando foi atingida. Um cabo e um sargento da PM foram indiciados por homicídio doloso e estão presos.

Famílias da menina e de outros jovens vítimas de violência abriram em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo estadual, uma bandeira do Brasil com o rosto de Maria Eduarda. O tecido tinha 54 furos. Cada um deles representando uma criança ou adolescente atingido por bala perdida entre 2017 e 2019, no estado. O grupo quer ainda a revisão do protocolo de ações policiais em comunidades.

De acordo com o presidente da Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, as mortes de jovens em meio a ações policiais, como é o caso de Maria Eduarda, não são casos isolados. Em junho de 2018, também na zona norte, o jovem Marcus Vinícius da Silva, de 14 anos, morreu baleado a caminho da escola, na Maré, durante operação da Polícia Civil. O trajeto era de menos de 20 minutos.

“Maria Eduarda morreu dentro de uma escola pública. Ela sonhava em ascender através do estudo e da prática do esporte, do basquete, e representa, com sua morte, as outras 53 crianças que tiveram o mesmo destino”, critica Antônio Carlos.

Familiares e amigos se despedem de Maria Eduarda Alves da Conceição. A menina morreu após levar três tiros no interior da Escola Municipal Daniel Piza, em Fazenda Botafogo, na Zona Norte do Rio de Janeiro

Parentes e amigos em enterro da menina Maria Eduarda Alves – Arquivo/Antonio Lacerda/EFE/Direitos reservados

A morte de Maria Eduarda completa dois anos no próximo dia 30 e o advogado da família, João Tancredo, cobra responsabilidade do Estado pela operação que colocou dezenas de estudantes em risco e culminou com a morte da menina. “A ação [de indenização] foi ajuizada há dois anos e o Estado vem contestando [na Justiça]. O Estado cria todo tipo de embaraço, é uma grande maldade com a família, prolonga o processo para eternidade”, afirmou. O advogado também atuou no caso do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, sequestrado, torturado e morto por policiais militares, na Rocinha, em 2013. No caso do ajudante, o estado do Rio chegou a se comprometer a não estender os recursos judiciais, o que não ocorreu. 

Durante o protesto, a família de Duda, como a menina de Acari era conhecida, esperava ser recebida pelo governador, Wilson Witzel. A mãe dela, Rosilene Ferreira, afirmou que, mesmo após a repercussão da morte da filha, ações policiais em horário escolar continuam colocando vidas de estudantes em risco, em Acari.

“Estamos aqui não só pela Maria [Eduarda], mas pelas outras crianças. Está a mesma coisa, o caveirão (carro blindado da polícia militar) está entrando na comunidade, está tudo igual”, disse.

A família não foi recebida. A assessoria do governo estadual informou que Witzel estava fora.