2 mil pessoas participam da inauguração da Fábrica do Futuro em Porto Alegre

A Fábrica do Futuro abriga co-working de 100 posições, salas privativas, auditório, salas de aula, espaços culturais e iniciativas voltadas à educação.

Ao longo do dia, 2 mil pessoas circularam pelos andares da Fábrica do Futuro, inaugurada no sábado (23), no 4ᵒ distrito de Porto Alegre. O novo espaço coloca a capital gaúcha no mapa da inovação mundial.

O público teve acesso a 20 palestras, shows, e pôde interagir com experiências em 3D, simuladores de movimento, Feira Maker, Food Hall Experience, para sentir o gostinho do que é esse espaço de 4000m².

A Fábrica do Futuro abriga co-working de 100 posições; salas privativas; auditório; salas de aula; food corner, espaço digital, zona criativa, kids space e espaço Zen, além de startups e scale-ups, espaços culturais e iniciativas voltadas à educação.

Francisco Hauck, sócio fundador falou do sentimento de dar início a esse projeto idealizado por anos.

“Sinto-me realizado pois ficou claro o brilho nos olhos dos que passaram por aqui. As pessoas tiverem visões de inspiração, futuro e prosperidade. Queremos ajudar a ‘narrativa do copo meio cheio’ para que as pessoas entendam que aqui é um dos lugares que tem essa alma para criarem seus projetos. O referencial de sucesso para mim é que as pessoas se sintam parte, pois a missão de criar uma cidade é coletiva”, avaliou.

Em relação aos próximos passos, o português Cesar Couto, CEO da Fábrica do Futuro, adianta algumas atividades.

“Essa semana ainda teremos um workshop com consultor inglês Michael Babb e representantes do Pacto Alegre, está previsto para breve um road show para start ups; palestra com o investidor anjo João Kepler e, em abril, a primeira etapa do Get in the Ring, uma das maiores competições mundiais de startups, que irá escolher uma empresa de Porto Alegre. Com isso, queremos criar processos que facilitem o crescimento dos empreendedores e cada vez mais ver talentos aqui na Fábrica”, destacou.

O conteúdo do Tech Art Festival misturou arte e tecnologia, com fortes pitadas de música e inovação. Na pauta estiveram temas como a interação entre humanos e robôs, com a presença da Fabulous, robô com Inteligência Artificial que ficará na recepção da Fábrica para receber e orientar as pessoas; diversidade e mulheres na tecnologia e no ambiente de trabalho, com Evelyn Mendes, programadora trans; a arte como instrumento de interação com Marina Bortoluzzi, do InstaGrafite; desafios da quarta revolução industrial, com o inglês Michael Babb e as práticas do mercado de DJs, entre muitos outros temas que permearam as palestras.

Consultor inglês Michael Babb

Aspectos da ética e da moral em tempos marcados pela constante e rápida evolução tecnológica foram abordados por Michael Babb, consultor inglês da indústria criativa no mundo.

“Devemos pensar em quais trabalhos serão desfeitos por causa da tecnologia e o que acontecerá com essas pessoas. É interessante pensar em fazer investimentos para ajudar alguém, ou, por exemplo, desenvolver um programa que ajude pessoas a serem pais adotivos. Devemos buscar coisas positivas a partir dessa mudança tecnológica”, explicou.

Babb ressaltou que enxerga uma distância entre a ética e a moral das discussões que envolvem tecnologia e inovação. O pensador também falou da importância de instituições como universidades, mídia, meios políticos e de negócios. “A tecnologia está se movendo muito rápido, então não podemos demorar a começar”, exaltou.

DJ angolano Pedro Coquenão

O dia encerou com o DJ angolano Pedro Coquenão, o Batida DJ, que trouxe o documentário “The Almost Perfect DJ” em primeira mão. O registro apresentou uma performance em que o artista questiona diversas práticas do mercado de DJs.

“O DJ é capaz de ser a mesma figura de um político ou de um cidadão, podendo ser tão mau ou bom quanto os dois, pois tem haver com quem o valida. O DJ precisa ser algo como uma ponte que conecta as pessoas, tem que ser humano”, destacou.

Pedro foi o primeiro DJ angolano a estrelar uma apresentação do Boiler Room, uma plataforma global de música. De acordo com ele, o consumo de música africana no mundo aumentou muito por conta de certo exotismo em torno da cultura. “O exotismo existe pois estamos muito longe uns dos outros. Acho que há também fascinação, é um consumo tardio, mas inevitável, afinal de contas a África faz parte do mundo”, disse.

Diversidade

“A importância da diversidade no universo tech” foi o tema da palestra ministrada pela programadora Evelyn Mendes. Evelyn, que é mulher trans, iniciou sua conversa questionando quem aborda questões de inclusão no seu dia-a-dia e ambiente profissional e falou como o mundo tech é dominado por homens.

Evelyn destacou que a primeira diversidade que temos contato é a de gênero, para explicar que é muito difícil um ambiente onde não há respeito com a mulher tentar ser mais diverso e incluir pessoas LGBT.

“Imagine um ambiente de trabalho onde você tenha uma pessoa que não sabe lidar com uma mulher ou com uma pessoa negra. Como você vai incluir um trans nesse contexto? É preciso ser algo gradativo, até porque uma pessoa não traz consigo só uma intolerância, ela carrega todas ao mesmo tempo”, explicou.

Ela destacou que diversidade na tecnologia é algo muito importante na sua vida. “Eu não deixo passar nada. Inclusão de mulheres na TI, de pessoas LGBT, de pessoas negras. Eu dou a voz para todas essas pessoas”. Evelyn ainda destacou que trabalhar diversidade é muito mais que uma palestra, que slides. Para ela, as mudanças nas empresas devem vir de cima, por parte da diretoria, para que a diversidade seja de fato efetiva.

Arte e interação

Marina Bortoluzzi, do InstaGrafite, conversou com o público sobre “A Arte de Interagir”, conceito também conhecido como Spect-Actor. Marina é uma das responsáveis pela InstaGrafite, uma plataforma independente global voltada para arte de rua contemporânea. Com mais de um milhão de seguidores nas redes sociais, é considerada uma das maiores mídias digitais voltadas para a street art do mundo.

Com tal notoriedade, a InstaGrafite passou a viajar o mundo conhecendo as tendências ao redor do mundo, além de observar as mudanças na maneira de consumo da arte.

“Vimos neste tempo que a arte pública mudou, migrou do grafite para o muralismo. Neste momento também existe algo que poderia ser desastroso pra arte: as selfies”, disse. Marina explicou que a tendência recente é do espectador querer interagir com a arte, mesmo que através de uma foto para replicar na internet.

“A selfie mostra que a arte é um pano de fundo para a vida das pessoas. Eu sei que para o artista isso pode ser dolorido, mas para o marketing é importante, pois as pessoas querem interagir com aquilo”, constatou ao mostrar exemplo das artes de rua que apresentavam asas de anjos, uma moda no ano de 2018. “A arte deixa de ser uma contemplação e passa a ser um conteúdo”, exalta.