Falta de integração no transporte gera mais gasto e perda de tempo

A falta de um sistema integrado entre os diversos modais de transporte torna a viagem mais cara e gera perda de tempo para o brasileiro. Esta é a conclusão do professor de Planejamento de Transportes do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação...

A falta de um sistema integrado entre os diversos modais de transporte torna a viagem mais cara e gera perda de tempo para o brasileiro. Esta é a conclusão do professor de Planejamento de Transportes do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), Ronaldo Balassiano. “E perda de tempo na viagem é menos tempo com sua família, para lazer, para o descanso, ou para fazer alguma coisa fora do horário de trabalho”, explica.

O transporte é apontado, pela população, como o quarto maior problema das cidades, segundo a pesquisa Mobilidade da População Urbana 2017, publicada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). A adoção de políticas eficientes de mobilidade urbana será um dos desafios dos governantes a serem eleitos em outubro. A Agência Brasil conversou com o especialista para saber qual avaliação sobre modelo adotado no Rio de Janeiro. 

Segundo Balassiano, que leciona no maior centro de excelência em Engenharia da América Latina, o Poder Público não vê o sistema de transporte como um sistema único. Na sua avaliação, o Rio de Janeiro tem um sistema com metrô, trens, ônibus, BRT, VLT, barcas, bicicletas, em que cada operador trabalha separadamente, sem que o poder concedente, que é o Estado, sequer exija essa visão de conjunto.

Rio de Janeiro - Viagem inaugural do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) Carioca, no centro da cidade (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) Carioca, no centro da cidade do Rio – Arquivo/Fernando Frazão/Agência Brasil

Balassiano defende uma administração integrada e neutra entre os diversos modais, que não ficasse sob responsabilidade exclusiva de qualquer operadora ou concessionária. Para exercer essa tarefa, que incluiria também a fiscalização dos serviços, o professor afirma que não seria necessário criar nenhuma empresa nova. Bastaria buscar profissionais na própria prefeitura ou no governo do estado que entendam de planejamento e de integração. Essa administração abrangeria não só a integração física dos modais, mas também toda a parte de bilhetagem.

Bilhete único

O professor da Coppe disse que um bilhete único daria ao usuário um leque de opções ao sair de casa, “com um valor que ele tenha condição de pagar”. Essa é a forma utilizada em cidades da Europa e dos Estados Unidos. Sublinhou que não faz mais sentido, no século 21, cobrar tarifas isoladamente, sem ter a visão do conjunto. “A integração é a forma que a gente tem de fazer com que as pessoas sofram menos nos seus deslocamentos, tenham mais prazer em andar pela cidade. E esse sistema funcionando, consegue também reduzir viagens que hoje são feitas de carro, em busca de maior qualidade e conforto”, sinalizou. “Temos como produzir isso com o transporte coletivo”, disse.

Balassiano afirmou que uma cidade pode ser considerada “humana” quando seu sistema de transporte coletivo oferece pontualidade, frequência, segurança, bilhete único e conforto.“Isso a gente não tem em nenhum dos modos [de transporte]”, assegurou Balassiano.  Ele admitiu que  a mudança para um administrador único, com  integração tarifária, não é uma coisa fácil de se realizar “da noite para o dia”, mas é “extremamente viável”. “Não tenho dúvida da viabilidade”, assegurou.

Subsídio

O professor da Coppe/UFRJ destacou que o custo de operação de cada modal de transporte continuaria sendo o mesmo. Em casos extremos, esse bilhete único talvez possa precisar de algum subsídio, “mas é um subsídio quase marginal”. Lembrou que durante a Olimpíada Rio 2016, por uma exigência do Comitê Olímpico Internacional (COI), foi criado um bilhete único, a partir da integração dos vários modais que chegavam às arenas, à exceção somente das barcas. Isso permitiu ao usuário fazer quantas viagens quisesse para assistir aos jogos. Os recursos seriam divididos pelos custos de todos os operadores. “Para isso acontecer, eu não posso deixar a arrecadação nas mãos de operador de ônibus, do metrô, etc. Afinal de contas, aquilo é uma concessão”. Cabe ao poder concedente fiscalizar os operadores e monitorar a realização dos serviços para os habitantes.

Balassiano salientou que todas as tarifas estabelecidas hoje são “tarifas políticas”, não reais. Quando pleiteados, os aumentos de preço das passagens não são, em geral, acompanhados de planilhas atualizadas e verificadas pelas modernas tecnologias que comprovem a necessidade do reajuste. O modelo de sistema integrado de transporte com bilhete único já vigora nas maiores cidades do mundo –  lembrou o especialista.

“Você compra um bilhete e anda o dia todo. E essas cidades nem faliram nem estão pobres, nem os operadores estão reclamando”. Balassiano sustentou que o modelo vigente está ultrapassado. “Só não avisaram aos gestores que esse modelo, onde cada um cuida de si, já caducou”. O modelo a ser implantado deve ser bom para o operador e “ótimo para a cidade”, concluiu.