Expansão aumenta risco de faltar água na macrometrópole paulista

Estudo divulgado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) mostra que a expansão urbana desordenada da população de baixa renda na chamada mecametrópole paulista se estende para áreas de preservação ambiental, pondo em risco o abastecimento de água na região. Do total de 33 milhões de habitantes da macrometrópole paulista, 3,8 milhões vivem hoje em condições precárias.

Essas pessoas estão distribuídas em 113 dos 174 municípios da área, que engloba as regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas, Baixada Santista, Sorocaba, Vale do Paraíba e Litoral Norte, além das aglomerações urbanas de Jundiaí, Piracicaba e Bragança Paulista.

A estimativa é que o território ocupado por essa população tenha 31,5 mil quilômetros e se expande em direção a áreas de mananciais e de preservação ambiental.

A ocupação urbana desordenada tem aumentado os riscos de escassez hídrica na região, que concentra 20% do patrimônio natural protegido do Estado de São Paulo.

A avaliação foi feita por pesquisadores participantes do Fórum de Governança Ambiental da Macrometrópole Paulista, realizado em abril no Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP).

São Paulo - Construções às margens da Represa Billings, um dos principais reservatórios de água da região metropolitana de São Paulo (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Construções às margens da Represa Billings, um dos principais reservatórios de água da região metropolitana de São Paulo – Rovena Rosa/Agência Brasil

“Ao analisar a distribuição populacional na região, é possível identificar um padrão de ocupação disperso e descontrolado associado à renda. Há uma concentração de residências de pessoas de alta e média renda próximas aos principais centros urbanos, onde há disponibilidade de empregos e atividades de comércio, serviços, polos de alta tecnologia e infraestrutura de transporte. Já as moradias da população de baixa renda situam-se em assentamentos precários localizados, de modo espraiado, em áreas de maior fragilidade e de preservação ambiental”, disse Angélica Benatti Alvim, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

De acordo com a pesquisadora, as principais regiões em que tem sido observado o avanço de aglomerados urbanos precários em áreas de preservação ambiental são as metropolitanas de São Paulo, Campinas e Baixada Santista.

A ocupação desordenada dos mananciais contribui para maior escassez da água nas regiões mais populosas, especialmente na Região Metropolitana de São Paulo, e coloca também em risco a sustentabilidade de regiões vizinhas à macrometrópole, como é o caso da região do Vale do Ribeira. Segundo estudos da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), as áreas mais populosas dessas regiões provavelmente vão intensificar o empréstimo de água de outras regiões em um futuro próximo, informou Angélica.

“Também percebemos que áreas próximas à Serra do Japi, em Jundiaí, no Vale do Paraíba e no litoral norte de São Paulo têm sido pressionadas pela ocupação desordenada”, disse.

Para a professora, a ocupação desordenada impacta a qualidade da água que já é pouca para atender tanta gente. “Nós temos um problema de quantidade e se a gente tem um problema de ocupação desordenada nós afetamos a qualidade essa água e isso já está sendo cada vez mais problemático. A mudança climática tem a ver com a escassez hídrica, mas se a gente afeta a qualidade, pelo processo de ocupação desordenada, combinando esses dois conceitos nós vamos afetar a disponibilidade, e a perspectiva é de caos.”

Favelas interligadas

Um levantamento feito por pesquisadores do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), centro de pesquisa apoiado pela Fapesp, há 1,1 milhão de pessoas a mais em situação de precariedade do que registraram os dados do último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Com isso, o total ajustado passou a ser de 3,8 milhões de pessoas.

“Essa disparidade nos dados censitários indicada pelo Centro de Estudos da Metrópole aponta para o surgimento de pequenos núcleos de favela na macrometrópole paulista”, afirmou da professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e coordenadora do Observatório das Metrópoles, Lúcia Maria Machado Bógus.

No município de São Paulo, por exemplo, o processo de favelização tinha revertido e, nos últimos anos, devido ao desemprego e à deterioração das condições de vida da população de baixa renda, tem se observado uma piora, disse a pesquisadora. “Isso também tem sido notado em outros municípios da macrometrópole paulista.”

De acordo com Bógus, outro fenômeno de ocupação urbana recentemente observado na região é a interligação das periferias de municípios vizinhos.

Hoje já não é mais possível se referir à periferia de São José dos Campos, por exemplo, sem lembrar que se vincula à expansão periférica de municípios vizinhos. Outro caso que merece destaque é o da cidade de Jundiaí, onde o processo de expansão das periferias, ligando municípios limítrofes, também é bastante evidente.”